Sugestões do editor

Simonetta Vespucci: mais bela e desejada que Mona Lisa.
14nov

Simonetta Vespucci: mais bela e desejada que Mona Lisa.

Simonetta Vespucci, a musa do Renascimento que inspirou Botticelli e superou a Mona Lisa em…

Michelangelo, Van Gogh: Quem ensinou os mestres da pintura?
08nov

Michelangelo, Van Gogh: Quem ensinou os mestres da pintura?

Professores que moldaram gênios. As obras dos mestres dos mestres. Quem mais influenciou seus alunos?

O Câncer de Mama nas Obras-Primas da Pintura
27out

O Câncer de Mama nas Obras-Primas da Pintura

O câncer de mama, uma doença que atravessa séculos, foi capturado de forma sutil, mas…

Postagens Recentes

Notre-Dame: Catedrais sob bombardeio.

As fotos mostram sacos de areia empilhados contra a Catedral para tentar evitar os danos da guerra.

Pulmão de Aço : A ciência contra o medo

Houve um tempo em que para respirar era necessário uma máquina chamada pulmão de aço.

Cliff House: A casa do abismo

Há casas que parecem nascer destinadas à ruína, a Cliff House, erguida sobre os penhascos de São Francisco, foi uma delas.

Show dos Beatles: Público de 18 pessoas

"Muitas vezes me pergunto como esses jovens se lembram da noite em que os Beatles chegaram a Aldershot e quase ninguém foi vê-los."

Artemisia Gentileschi: a vingança através da pintura

Artemisia Gentileschi: a mulher que pintou a vingança

Em pleno século XVII, quando as mulheres mal podiam sonhar com pincéis, uma jovem romana enfrentou o inferno e saiu dele carregando um pincel como espada e a tela como escudo. Artemisia Gentileschi (1593–1653) não foi apenas a primeira mulher aceita na Accademia delle Arti del Disegno de Florença. Ela foi, acima de tudo, a artista que transformou trauma em triunfo e silêncio em grito eterno.
 

O estupro que abalou Roma

Em 1611, aos 17 anos, Artemisia foi violentada por Agostino Tassi, pintor contratado por seu pai, Orazio Gentileschi (tem obra de Orazio aqui), para lhe ensinar perspectiva. O crime, porém, não ficou apenas na violência física. Seguiu-se um julgamento público escandaloso que durou sete meses.
Durante o processo, Artemisia foi torturada com o método “sibila” – cordas que apertavam os dedos até quase quebrá-los – para “confirmar” sua versão. Era um metodo de verificar a veracidade de uma acusação, na verdade, uma tortura. Mesmo assim, ela repetiu com firmeza: “È vero” (“É verdade”). Tassi foi condenado, mas cumpriu apenas parte da pena ridícula de um ano (e logo foi perdoado).
Essa experiência, contudo, nunca a calou. Pelo contrário, alimentou sua obra mais poderosa.
 

Quase analfabeta, totalmente genial

Artemisia mal sabia escrever – suas cartas eram ditadas e assinadas com dificuldade. No entanto, dominava como poucos a linguagem das sombras e das luzes. Enquanto muitos artistas barrocos pintavam por encomenda religiosa, ela escolhia temas violentos protagonizados por mulheres fortes: Judith, Susana, Cleópatra, Lucrécia.
Suas heroínas não são vítimas passivas. Elas cortam cabeças, enfrentam anciãos libidinosos e morrem com dignidade. A crítica atual vê nessas telas uma catarse pessoal: a pintora colocava no lugar das protagonistas a si mesma.
 

Obras que ainda chocam (e encantam)

Dentre suas obras-primas, destacam-se:
  • Judith Degolando Holofernes (1612–1613 e 1620–1621) → Existem duas versões. A segunda, pintada em Florença, é mais sanguinária e realista. O jato de sangue parece verdadeiro; dizem que Artemisia usou seu próprio reflexo no espelho para pintar o rosto implacável de Judith.
  • Susana e os Velhos (1610) → Pintado um ano antes do estupro, já mostra uma mulher incomodada pelo olhar masculino – quase profético.
  • Autorretrato como Alegoria da Pintura (1638–1639) → Uma mulher de braço erguido, rosto concentrado, literalmente incorporando a própria Arte. A Real Coleção Britânica pagou uma fortuna por ele em 2018.
  • Judith e sua Serva (1618–1619) → Aqui a violência já aconteceu; resta o suspense da fuga. Uma das telas mais cinematográficas do Barroco.
 

A volta por cima que inspira séculos

Após o julgamento, Artemisia poderia ter desaparecido no esquecimento reservado às “mulheres manchadas”. Em vez disso, casou-se estrategicamente com Pierantonio Stiattesi e mudou-se para Florença. Tornou-se amiga de Michelangelo Buonarroti, o jovem ( o sobrinho do famoso) e de Galileu Galilei. Recebeu proteção dos Médici e pintou para Cosme II. Ainda, Mudou-se para Veneza, depois Nápoles, e finalmente trabalhou até para o Rei Carlos I da Inglaterra.
Morreu em 1653, durante a peste em Nápoles, já reconhecida como “la pittrice” – a pintora.
 

Curiosidades que você provavelmente não sabia

  • Ela assinava suas telas “Artemisia Lomi” (sobrenome do tio) para evitar associação direta com o escândalo do pai e de Tassi.
  • Foi a primeira mulher a pintar tetos de igrejas (Casa Buonarroti, em Florença).
  • Suas cartas revelam um senso de humor ácido: chamava alguns clientes de “burros que pagam bem”.
  • Em 2019, a National Gallery de Londres fez uma exposição só dela – a primeira vez em séculos que uma mulher teve esse espaço sozinha.
 

Uma fênix com pincel

Artemisia Gentileschi não apenas sobreviveu ao século XVII como mulher violentada. Ela o desafiou, pintou-o, venceu-o. Hoje, suas telas valem milhões e suas heroínas continuam cortando cabeças – simbólicas ou não – em museus do mundo inteiro. Porque, no fim das contas, a maior vingança dela não foi a espada de Judith. Foi o pincel.










































Fontes de pesquisa: Accademia Delle Arti Del Disegno, National Gallery de Londres, Florence Museum, Aventuras na Historia, Wikimedia Commons
Gostou da publicação? Compartilhe esta matéria com os amigos.
Previous Posts
Próximo post

Related Posts:

  • All Post
  • Africa
  • America
  • ANTIGAMENTE
  • Arqueologia
  • Arquitetura
  • ARTE
  • Asia
  • Caricatura
  • CARTAZES
  • CATEGORIAS
  • CIÊNCIA
  • Colorização
  • ESCULTURA
  • Europe
  • FOTOGRAFIA
  • GUERRA
  • Ilustração
  • MUSEU HERMITAGE SP
  • Música
  • Panorâmica
  • Travel Tips

Saiba em primeira mão das publicações do Imagens e Letras Magazine. Inscreva-se e receba sua dose de história e arte diretamente na sua caixa de entrada!

Não fazemos spam!

Desde abril de 2007,  celebramos a arte em todas as suas formas — das grandes obras-primas aos pequenos gestos que moldam o olhar humano. Além da arte, os acontecimentos que marcaram a história, acreditando que cada traço, cada imagem e cada artista possuem o poder de inspirar e transformar o mundo.

Mais do que um blog sobre arte, este é um ponto de encontro entre passado e presente — um lugar onde a beleza, a memória e a reflexão caminham lado a lado. A criatividade humana não apenas retrata a realidade: ela a reinventa, e com isso, muda a sociedade.

Navegação Temática

Temas incidentais nas publicações

I am a tooltip

©2007. Criado e mantido por Olavo Saldanha