Nas últimas semanas o Brasil encarou um perigo antigo e silencioso: destilados adulterados com metanol — um álcool industrial que, ingerido, causa cegueira, falência de órgãos e morte. Milhares de garrafas foram apreendidas. Casos confirmados e suspeitos se espalharam por diferentes estados, com dezenas a centenas de intoxicações reportadas e mortes confirmadas.
Ao contrário do etanol (o “álcool de beber”), o metanol é metabolizado em ácido fórmico e formaldeído — tóxicos que atacam o nervo óptico e o sistema nervoso central. Os sintomas precedem uma deterioração rápida e irreversível.
Um espelho histórico: a política do envenenamento na Lei Seca americana
A atual crise brasileira ressoa com um episódio sombrio da história dos EUA: durante a Lei Seca (1919–1933), quando proibiu a venda de bebidas alcoólicas e percebendo que a proibição não surtira efeitos, o governo dos EUA determinou que o álcool industrial fosse “misturado” com substâncias tóxicas — inclusive aumentando o teor de metanol — para desencorajar o uso das bebidas.
A medida foi empregada oficialmente na década de 1920, mas teve um efeito previsível e mortal: milhares de pessoas adoeceram e mais de dez mil morreram ao consumir as bebidas envenenadas propositalmente.
Reportagens históricas estimam que as políticas públicas daquela época contribuíram para as mortes por intoxicações, gerando um grande trauma social. A contaminação nos EUA nasceu de um movimento nacional pela abstinência iniciado no século XIX, impulsionado pelas leis morais exigidas pelo evangelismo protestante. A proibição criou ainda um dos maiores mafiosos da história, El Capone.
Fontes de pesquisa: National Museum of Women In The Arts, Institut Royal Du Patrimoine Artistique