A arte — sobretudo a pintura — era vista como domínio masculino, um campo de glórias e reconhecimentos ao qual as mulheres raramente tinham acesso. Às artistas, restava o papel de musas, modelos ou assistentes silenciosas. Mas algumas recusaram o silêncio. Essas mulheres derrubaram as paredes e inscreveram seus nomes na história da arte, muitas vezes à custa de anonimato, preconceito e renúncia.
Ser uma pintora no século XIX era desafiar um sistema inteiro. As academias de arte, que formavam os grandes mestres, negavam o ingresso feminino. O estudo do corpo humano — essencial para a pintura — era interditado às mulheres, sob a alegação de que seria “impróprio”. Restava-lhes aprender sozinhas, copiando obras nos museus, retratando familiares, ou buscando mestres particulares dispostos a aceitar alunas. Ainda assim, fora do universo dos grandes pintores, emergiram talentos extraordinários.
Rosa Bonheur, por exemplo, desafiou o conservadorismo francês ao tornar-se uma das mais célebres pintoras do século. Sua obra O Mercado de Cavalos (1853) é um monumento à força e ao realismo, resultado de longas observações em feiras de gado às quais só pôde frequentar disfarçada de homem.
Elizabeth Jane Gardner Bouguereau conquistou medalhas no Salão de Paris, embora seu trabalho fosse frequentemente comparado — e reduzido — ao do marido, o pintor William-Adolphe Bouguereau.
A inglesa Evelyn De Morgan rompeu as convenções vitorianas com suas alegorias místicas e feministas, enquanto Berthe Morisot, em Paris, se tornava uma das raras mulheres a integrar o núcleo original do Impressionismo.
Essas artistas, e tantas outras, abriram fendas no muro do preconceito. Elas não apenas pintaram; resistiram.
O século XIX pode ter sido o tempo dos grandes mestres, mas também foi o século em que muitas mulheres, anônimas ou esquecidas, tomaram o pincel e ousaram pintar o que não se via: o próprio direito de existir na arte. Um dia essas pintoras se encontraram em Paris, foi quando começaram a sair do anonimato. As Mulheres artistas em Paris será nosso próximo encontro sobre elas.
Elizabeth Jane Gardner

Marie Bracquemond
Maria Konstantinova Bashkirtseff
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